23.6.15

Brasil e Colômbia se enfrentaram pela Copa América, naquela que foi a terceira partida entre as duas equipes em um ano. Nas outras duas ocasiões a Seleção Brasileira venceu, mas nesta última os colombianos não só ganharam como mostraram uma força muito grande e diferente de outros encontros. Assim como fiz com o Chile, resolvi entender o que de fundamental aconteceu e definiu o jogo.

Pékerman, outro treinador argentino, assim como Sampaoli, já treinou a Seleção da Argentina na Copa de 2006. Seu estilo é tradicional ao sulamericano, com bastante marcação e dois meias fazendo as criações de jogadas. Na Colômbia ele mantêm este estilo. E foi assim que os colombianos deram um nó tático no Brasil, na penúltima rodada do Grupo C da Copa América.

Com uma recomposição defensiva extremamente forte e precisa, os colombianos montaram um esquema de marcação por zona e que anulasse o principal jogador do Brasil: Neymar. Como na Seleção o jogador brasileiro atua pelo lado esquerdo, por aquele lado o treinador da Colômbia colocou Zuñiga e o volante Sánchez. Na cobertura ainda ficava o experiente Zapata.

Além deles, Juan Cuadrado  pela direita e James Rodriguez pela esquerda, com Radamés Falcão voltando, a marcação do ataque do Brasil era não só eficiente como neutralizou qualquer tipo de criatividade pelo meio. A Seleção Brasileira até tentou abrir o jogo, procurando sempre Filipe Luís na partida. O lateral foi o jogador que mais tocou na bola no jogo inteiro, justamente o único que não tinha pelas suas costas outro jogador, com Fred acompanhando Juan.

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James e Cuadrado, com o sistema defensivo forte, jogou em cima do Elias e Fernandinho. Com isso a bola não saía com qualidade e os volantes se apresentando como opção de ataque. Essa liberdade de ataque aos dois colombianos também cresceu ainda mais com apoio do lateral esquerdo Armero, que sempre teve vocação ofensiva.  O resultado foi um time "mordendo" bastante na marcação e muita gente na frente.


Com a recomposição mais lenta, mesmo com Fred ajudando os dois volantes, o sistema defensivo não conseguiu acompanhar o ritmo colombiano e por diversas vezes ficava em número igual de jogadores. Por pelo menos três vezes no primeiro tempo, a Colômbia usou dessa saída rápida para pegar o Brasil de surpresa e encaixar seu ataque na defesa desarrumada da Seleção do Dunga.


Se aproveitando desse ímpeto que os colombianos estavam por jogar novamente contra o Brasil, os jogadores acabaram por fazer marcação tão forte no meio campo que matavam a criação de jogadas brasileiras. Impedindo que a bola chegasse à frente e os volantes Elias e Fernandinho com James e Cuadrado, respectivamente, as opções eram sempre laterais ou isolamento. E sempre em superioridade numérica, a máxima do futebol moderno de hoje em dia.

Foi essa marcação forte, por vezes bruta, que irritou Neymar e causou sua expulsão. O jogador, que tem problemas pessoais por causa da sua transferência para o Barcelona que acumulou ainda mais nervosismo, não conseguiu partir pra cima da defesa, receber os passes ou criar jogadas. Sem um jogador específico de criação, o Brasil acabou sendo presa fácil para esse tipo de jogo colombiano.


No segundo tempo, a Colômbia já em vantagem no placar, apenas deixou o Brasil com a bola e aplicou todas esses movimentos táticos. Com uma pitada de revanche e correndo "dobrado", como Pékerman descreveu o seu time naquela noite, os colombianos acabaram ganhando dos brasileiros na tática, na técnica e na raça.

20.6.15

Sem dúvidas que a grande sensação dessa Copa América é a Seleção do Chile treinada pelo o argentino Jorge Sampaoli. Não é uma novidade, bem verdade, já que jogou assim na Copa do Mundo, inclusive atropelando a Espanha que conhecia o estilo de jogo chileno por causa do Barcelona.

O Sampaoli apareceu de forma marcante durante a Sul Americana 2011, quando passou por cima de todos os adversários e ganhou a competição de forma invicta. Àquela altura, o conceito praticado por ele já era consagrado na Europa, no Barcelona de Guardiola. Veio ao Maracanã e enfiou 4 a 0 sobre o Flamengo do Luxemburgo e Ronaldinho, sendo três gols apenas no primeiro tempo. O time foi tão envolvente no seu conceito de jogo, que a defesa rubro-negra terminou até com jogador expulso, o volante Aírton.

O que o argentino faz é um oásis em meio a um deserto de atraso tático na América do Sul. Em se falando de Brasil, piora mais ainda. Vide o que eles fizeram com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo, quase eliminando o Brasil. Jogando nas costas do Marcelo e Daniel Alves, anularam qualquer ímpeto ofensivo da equipe do Felipão.

Os times do Sampaoli praticam o futebol de inversões de esquemas táticos a todo momento, utilizando cada um dos treinados à exaustão para momentos específicos da partida. Ele é jogado com triangulações e domínio total da posse de bola, o que é fundamental para esse estilo de jogo funcionar. Em média, o Chile troca 560 passes por partida. Contra a Bolívia, na última rodada da Copa América, foram 620. Para uma ideia, o Barcelona do Guardiola trocava 720 passes em média.

Na distribuição em campo, o time joga num 4-3-3 pelos jogadores colocados em campo. Porém, quando ataca, o Chile se torna um 3-4-3, com o lateral direito Isla subindo e virando ponta (por vezes reveza com Vidal a posição, assim um deles virando meia pelo mesmo lado). Com isso, o lateral esquerdo Mena fica preso ao esquema e não sobe. O meia vira um losango, com Valdívia à frente e Díaz atrás, na proteção da zaga. Marcação em zona e com ocupação de espaço.

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Para o funcionamento desse esquema a posse da bola é o sistema nervoso de tudo, porque além de girar a bola e envolver o adversário, o Chile abre espaços pelos lados e quebra a marcação adversária com passes rápidos. A tão famosa e badalada compactação é marca desse time. Jogando numa faixa máxima de 20 metros. Veja na foto acima

A troca de passes e posições acaba confundindo o adversário e, principalmente, abrindo os espaços para chegar ao gol. Foi assim que os chilenos conseguiram fazer o segundo gol, o de empate. A defesa do México acabou ficando mano a mano com os jogadores que chegaram ao ataque, sendo que os volantes deixaram Valdívia livre no meio e as laterais abertas para a chegada do Vidal ou Isla.


Essa atitude ofensiva do Sampaoli é nítida quando o time sobe e a defesa adversária rifa a bola para a frente. A Seleção Mexicana abusou de ligações diretas nesse estilo para tentar quebrar o esquema tático chileno e surpreender a formação do Chile. Como jogava com três atacantes, o México sempre precisava da volta de um deles para a ajudar na recomposição. Por diversas vezes pegou o time sulamericano de surpresa, mas a defesa com Jara e Medel conseguia impor superioridade em número de jogadores, uma das máximas do futebol moderno.

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Na recomposição defensiva tudo isso muda. O time volta a jogar com uma linha de quatro defensores atrás, com Díaz e Aranguiz á frente da zaga, forçando Vidal e Sánchez também a voltarem. Com isso o time forma duas linhas defensivas e que marcam muito forte, sem espaços para o adversário. Valdívia fica um pouco mais avançando e esperando o contra ataque para forçar as jogadas. O único "porém" nisso tudo é a lentidão com que Vidal e Isla voltam para recompor. Foi assim que o México conseguiu fazer três gols, jogando em cima dessa deficiência.

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É lindo assistir ao Chile jogar. Moderno, diferente e com um futebol bonito, de toques rápidos! Sampaoli absorveu bem da escola que nos últimos oito anos chegou com força ao futebol, onde a ofensividade das equipes é marca de um tempo que morreu no Brasil. Como bem disse Guardiola uma vez, ao ser questionado como ele fazia o Barcelona jogar de forma tão ofensiva mas com tanta posse de bola e presente até em sua biografia:

"Faço apenas o que o meu pai sempre me contava ser o futebol brasileiro".

2.6.15

Desde que o blog voltou eu venho estudando novas colunas e as dicas que chegaram via email. A "Na Estante" já estava engatilhada e, após o escândalo da FIFA, achei que era hora de colocá-la em prática.

"Na Estante" será voltada para indicações de leituras, geralmente livros, em torno de um assunto. Obviamente, as dicas serão com base nos que li, conheço ou indicado por amigos. Por isso, nada mais apropriado do que começar pelos livros sobre futebol e seu meio. Vamos a eles:

"Guia Politicamente Incorreto do Futebol" - Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior


Com certeza muita gente deve conhecer a série de "Guia Politicamente Incorreto" lançada pelos autores, que foi desde a História do Brasil à História Mundial. Esse novamente desconstrói os mitos acerca do futebol. Entre eles estão a de Charlles Miller como pai do futebol, sendo na verdade o pai da "cartolagem". Ou a lenda urbana de que o Brasil teria vendido a Copa de 1998 para a França, inclusive provando porque é uma invenção.

O texto é bem didático, divertido e de leitura fácil. Entre a bibliografia de pesquisa estão livros bases da literatura esportiva brasileira, como "O Negro no Futebol Brasileiro", de Mário Filho, e um ícone do século XX, "A Revolução dos Bichos", de  George Orwell.

 "Bola Fora" - Paulo Vinicius Coelho


Paulo Vinícius Coelho, ou simplesmente e popularmente conhecido PVC, é um dos grandes jornalistas esportivos que o Brasil já teve. Particularmente, sou fã da sua habilidade de comentarista e do seu texto refinado e didático.

"Bola Fora" é mais uma síntese disso tudo. Com uma pesquisa muito boa e explicações diretas, PVC conta a História dos jogadores que foram tentar a sorte fora do Brasil. O jornalista mostra os primeiros a saírem do Brasil em busca de profissionalização, como os irmãos/primos mineiros que foram pra Lazio, na década de 30, dando início à exportação dos jogadores nacionais.

Também são lembradas as fases em que o Brasil, como agora, ficou para trás na reformulação do seu futebol. O exemplo é o mitológico zagueiro Domingos da Guia, que por causa do amadorismo brasileiros, foi tentar a sorte no Uruguai e Argentina, onde se tornou uma lenda contada até hoje.

Já nos dias mais recentes, PVC detalha a venda de jogadores importantes, como Falcão e Zico. Não só em cifras, mas também como e porque foram respectivamente para a Roma e Udinese, deixando de lado outros clubes até maiores.

Uma leitura imperdível aos amantes do futebol.

"Jogo Sujo - o Mundo Secreto da Fifa" - Andrew Jennings


Andrew é considerado o inimigo número 1 da FIFA. O escocês revelou ao mundo a polêmica intenção corrupta da entidade em administrar o futebol com parcerias repletas de dólares sujos. A leitura é um grande dossiê contra não só aos gestores do futebol com sede na Suíça, como aos dirigentes que fazem parcerias controversas.

Se tornando uma grande Caixa Preta da corrupção, o livro apresenta com documentos e detalhes, transações e propinas em troca de favorecimentos políticos, econômicos e, principalmente, esportivo. Os textos mostram desde a falida ISL financiando dirigentes, até a trocas de favores em federações pelo mundo, principalmente África, Ásia e Europa.

Também são mostradas as vantagens que os patrocinadores tiveram durante tanto tempo com a FIFA, principalmente Adidas, relacionando tudo isso a sua ascensão como fornecedora mais poderosa do mundo. Não escapam nem os anunciantes e parceiros de Copa do Mundo, como a Visa e afins, que mesmo pagando menos, conseguiram lucrativa visibilidade mundial.

O livro é simplesmente de imprescindível leitura aos jornalistas da área esportiva e quem assiste o futebol achando que tudo é decidido dentro das quatro linhas.